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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dia 19. Serviço de porco e conversa fiada


Terça-Feira, 17 de setembro de 2013.
De Chivay / Peru a El Fiscal / Peru (330 km).


Uma manhã perdida em Chivay, consertando acessórios da moto ao som da ladainha de um soldador e um policial falastrão... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.


Trajeto do dia:




Trajeto detalhado:



Parece menino arteiro

Por volta das 6h30 já me encontrava de pé para mais um dia de viagem. Como o hotel não servia café da manhã, então, saímos para procurar alguma padaria ou lanchonete aberta. Tivemos que procurar um pouco, pois, não havia nada aberto ainda. A um quarteirão dali, do lado contrário ao que tínhamos iniciado a procura, encontramos uma padaria onde pudemos tomar um bom café. Comi um pedaço de rocambole com achocolatado que foi um espetáculo.


Em seguida, arrumamos tudo e fomos buscar as motos que ficaram na garagem isolada. Nesse meio tempo, entre o café e a saída para buscar as motos, incentivei o Pedro e decidimos que iríamos dar uma volta num daqueles moto-carrinhos muito usados na região para transporte de passageiros.

Já os havia visto desde a Bolívia e comentei com o Pedro que não poderíamos terminar a viagem sem andar num desses. Então, diante da oportunidade, não perdemos a chance.

Abordamos o motorista de um desses moto-carrinhos, na praça central, e solicitamos uma corrida. Entramos e partimos. 


 
Quando terminamos de fazer a meia volta na praça, nos confundimos sobre qual deveria ser a rua em que deveríamos entrar e, quando nos demos conta, notamos que tínhamos passado do ponto onde deveríamos ter desviado.



Muito bom! Eu não queria andar de moto-carrinho? Então, iria aproveitar o passeio um pouco mais. O motorista deu mais uma volta na praça e, dessa vez, acertamos. Enfim, chegamos no estacionamento onde as motos tinham ficado. 




Retiramos da garagem, nos acomodamos, ligamos a ignição, demos partida e... onde estavam os capacetes? Isso mesmo...




Desde a entrada na Bolívia, e agora no Peru, vínhamos observando que praticamente todos os motociclistas não usavam capacete e parecia ser uma pratica comum mesmo entre os militares. Pois bem, acabei comentando com o Pedro: “- Pedro, todos por aqui andam sem capacete: motoristas e caronas, civis e militares, adultos e crianças. Onde já se viu isso? Você está desrespeitando a cultura local. Vai terminar sendo detido.”

Prontamente, ele me respondeu:
“Você também! Então, vai ter que se retratar.”

Então, nesse dia, deixamos os capacetes no hotel e conscientemente lá estávamos, na porta do estacionamento, sem capacete, com os motores ligados e prontos para partir. Era pequena a distância do estacionamento até o hotel, mas, confesso que foi boa a sensação de andar de moto com a “cara no vento”.







Prontos para partir? Parece que não

Ao voltarmos para o hotel, começamos a carregar a bagagem e qual não foi minha surpresa ao descobrir que meu afastador de alforges estava sem um dos quatro parafusos que o prendem à moto. Apenas para esclarecer, o afastador de alforges é uma peça utilizada para impedir que o escapamento quente da moto fique em contato com os alforges, eliminando o risco de incêndio.

Logo, adverti o Pedro sobre o risco de continuar a viagem naquela situação e comentei que precisaria consertar antes de sairmos. Consequentemente, saí para procurar uma loja que vendesse parafusos, a fim de encontrar algum que pudesse servir no afastador. Eram umas 8h30.

Após pedir informação, encontrei uma loja de materiais de construção (à esquerda na próxima foto). 



A boa notícia foi que havia parafuso na mesma medida do meu afastador de alforges, e a má notícia, que ele não serviria, pois, o tipo dos frisos do parafuso era diferente do existente na rosca do afastador.

Sem sucesso, após tentar encontrar um parafuso equivalente em outra loja, terminei por voltar ao primeiro estabelecimento onde havia passado, frustrado, com a esperança de conseguir arrumar outra alternativa para o problema.

Dessa vez, sem me decepcionar novamente, o dono da loja sugeriu uma solução que, por sinal, achei ótima! Pelo menos, para o momento.

De maneira geral, a idéia era a seguinte: o parafuso encontrado era da mesma medida, porém, não se encaixava na rosca do afastador de alforges porque seus frisos eram diferentes (não me lembro se em milímetros ou polegadas). Então, eu compraria o parafuso e a sua porca equivalente e os levaria no soldador.

Consequentemente, ele soldaria a porca na haste do afastador e isso permitiria que o parafuso fosse corretamente rosqueado fazendo prender, firmemente, o afastador de alforges na moto.

Não se preocupe, em suma, comprar parafuso e porca, soldar, rosquear e, finalmente, prender...


Uma ladainha atrás da outra

Como todo otimista, a teoria era ótima. Restava saber se funcionaria, realmente, na prática. Rapidamente comprei o parafuso e a porca indicada e os levei ao soldador (à direita no terreno da esquina, bem em frente ao carro azul, mas, do outro lado da rua).



Ao chegar lá, expliquei-lhe o problema e ele solicitou que posicionasse a moto dentro da oficina, pois, seria simples de fazer. Pensei: 

"Deve haver alguma coisa errada, está fácil demais." 

Ele colocou algumas proteções necessárias para evitar que o respingo de faíscas não danificasse outras peças, principalmente o plástico da carenagem, colocou sua máscara e iniciou os trabalhos.

Nesse meio tempo, o funcionário da oficina já me havia indagado se eu queria vender a moto, meu macacão, o capacete (eu iria sair só de cueca dali)... e o melhor: tudo pelo preço de um terço do que havia pago no Brasil (“e o cabra era insistente”). Cada vez que eu recusava uma oferta, ele olhava para outro item e fazia uma nova. Que cara esquisito. Disse que realmente não queria vender nada e ele acabou sossegando.

Enquanto isso, como se não bastasse a insistência e chateação do soldador, me aparece um policial peruano tarado e desbocado que me cumprimenta me chamando de gringo e já falando dos glúteos avolumados das brasileiras e que eles não encontravam semelhantes por lá... E terminada a choradeira inicial, emendou outra ladainha, a mesma do soldador: Vende isso? Vende aquilo? Vamos trocar (“opa, peraí”)?

À medida que o policial me indagava, e eu lhe dizia que não venderia nada, observei que se formava uma fisionomia de frustração, pois, a cada lance penso que ele realmente acreditava que me fazia uma oferta justa por meus equipamentos. Assim, terminei por pensar: 

“Pode apostar, não saio daqui hoje. Esse cara vai me prender por desacato.”

Enfim, seu telefone tocou, fazendo-o se afastar um pouco. Então, voltei minha atenção  para o soldador e, num belo “portunhol”, lhe perguntei: 

“E então? Está firme aí? Posso seguir para la carretera?”

Mais cinco minutos e o soldador já se encontrava removendo as proteções que havia colocado para proteger o plástico da carenagem. Ao chegar mais perto, e olhar o serviço feito, lhe disse apenas três palavras... a primeira, em voz alta, de forma clara e em bom tom; a segunda e terceira, só em pensamento, para evitar motim. E o que lhe disse foi (faça as contas aí): 

“Ótimo, seu porco!”

Ele havia furado a parte lateral traseira da carenagem da moto, embaixo do parafuso soldado. O prejuízo seria grande, pois, a peça é cara. Pelo menos, o serviço estava terminado e o suporte bem fixado, como planejado.

Pagamento feito... Liguei a moto e, como em final de campeonato, torci para que aquele policial desbocado não me aparecesse na frente. Dessa forma, voltei rapidamente para o hotel e encontrei o Pedro com a bagagem já pronta. Então, apressei-me em montar minhas coisas.


Agora sim, vamos embora

Consequentemente, saímos por volta de 11h30. O Pedro seguia na frente e acabou  errando a saída, porém, avistou uma loja de equipamentos para motocicleta e resolveu que trocaria o pneu da moto naquele momento. Infelizmente, não havia o tipo de pneu adequado para a moto.

Assim, poucos metros depois da saída da cidade nos encontrávamos subindo a cordilheira novamente. 



Foto cedida pelo Pedro 

Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro


Ao vencermos a cordilheira, paramos para almoçar do outro lado e tomamos um belo caldo de galinha.





Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro

Foto cedida pelo Pedro

Ei! Não é por aqui não

Passamos por Arequipa/PE e, assim como em todas as grandes cidades por onde passamos, pegamos um trânsito bem complicado para atravessar a cidade. 


Após já estarmos na estrada, a alguns km ao sul de Arequipa/PE, ainda erramos o desvio que nos levaria à cidade de Moquegua/PE e andamos mais uns 30 km em direção a Lima/PE (Pela Panamericana Sur).

Só não andamos mais porque desconfiei ao passarmos por uma placa que indicava que estávamos no sentido para Lima. Consequentemente, acelerei para alcançar e avisar o Pedro sobre o equívoco que poderíamos ter cometido. Por bom senso, paramos no primeiro posto de abastecimento para nos certificarmos. E a conclusão foi como esperado: seguíamos no caminho errado e, assim, tivemos que voltar e pegar o desvio correto.





De porta escancarada

Motocamos mais um pouco e, afetados pelo frio de fim de tarde que já nos envolvia, paramos em El Fiscal/Peru às 18h e pernoitamos por ali mesmo, em um quarto cedido por um morador da cidade, nos fundos de seu restaurante.



Como se não tivessem bastado as aflições já enfrentadas no dia ainda fiquei com a chave do quarto presa na porta, do lado de fora da fechadura, e assim passei a noite.



Hotel: $30,00 nuevos soles (US$10,68)




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