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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dia 16. Coma profundo


Sábado, 14 de setembro de 2013.
Ollantaytambo/Peru (0 km).


Após o bonito e cansativo passeio à cidade de Machu Picchu, um dia em coma. Descanso e reflexões sobre a viagem de moto... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.


Quem sou? Onde estou?


O relógio não tocou nesse dia obviamente, pois, foi consciente e oportunamente desligado na noite anterior.

Lá pelas tantas da manhã, por algum milagre da natureza, minha alma conseguiu retornar ao corpo, largado e estatelado na cama, na mesma posição em que havia adormecido desde o último instante de consciência da noite anterior.

Quem sou? Onde estou? O que faço? Aos poucos recobrei a consciência! Contudo, a única coisa que sentia era o corpo pesado, quase que pregado ao colchão, como se um caminhão tivesse passado por cima, não uma, mas, inúmeras vezes. Assim, sem conseguir mover fisicamente um dedo sequer, a não ser o que somente a imaginação permitia... continuei ali, imóvel, como num estado de catalepsia. 

Nesse meio tempo, uma pálpebra se entreabre. E o que vejo? Bagunça, muita bagunça: alforges e bauletos espalhados pelo chão; a roupa suja do dia anterior amontoada no pé da cama, ao lado daquelas que foram retiradas da bagagem e que não foram usadas; um sem número de elásticos-aranha e cordas de amarração de bagagem que, provavelmente, já teriam formado algum nó que levaria anos para ser desfeito; baterias e carregadores de bateria e fios e equipamentos eletrônicos e extensões elétricas ocupando o espaço aberto entre as malas de viagem... e parte (a que o campo de visão do olho entreaberto conseguia ver) de uma perna de calça que deveria estar pendurada em algum varal do Pedro.

Sem apresentar resistência, a pálpebra entreaberta cerrou-se, e assim que terminei de concluir que nesse dia não haveria viagem de moto, iniciou-se novamente o processo de hibernação do corpo. Bem, pelo menos já havia saído do coma e o quadro era estável.

Ahhh! Mas, e as notícias do Pedro? Que Pedro? Quem é Pedro? Sabe-se lá do paradeiro desse tal Pedro! Minha consciência e minha metade de olho aberta só me permitiram ver o que listei acima.

Coragem! É preciso reagir

Em outras tantas da manhã, um pouco mais recuperado, tomei coragem e levantei da cama para ir passar uma água no rosto.

Depois, troquei de roupa, vesti o chapéu de Machu Picchu que havia comprado para guardar como lembrança e verifiquei o tempo lá fora...



Muito bem! Tudo pronto para uma volta pela cidade para distrair? NÃO! Sem brincadeiras com coisa séria. Voltei pra cama, pois, hoje seria o dia inteiro com as pernas para o alto, como marajá. Oportunamente, aproveitei para atualizar meu diário de viagem e alguns relatos.


Ahhh! Sim! O Pedro. A vida para ele também estava difícil!


Com muito esforço...

Após o almoço, que foi à base de água e barras de cereal, aproveitei para sair um pouco do quarto, afinal de contas, viajar de férias e passar o dia todo assim, deitado na cama e sem fazer nada, é demais. Andar mais de 4 mil quilômetros, de moto, até o momento, para passar um dia inteiro dentro do quarto, não ia dar não. Já era hora de dar um passeio.

O dia estava bonito, ensolarado, com temperatura amena por causa da altitude, sem ventania. Excelente para caminhar! Então, iniciei o trajeto que tinha em mente e ao passar pelo saguão da pousada cumprimentei a funcionária que, por sua vez, me desejou um bom passeio. Agradeci, segui em frente e, uns vinte passos mais à frente, já me encontrava no destino planejado. Dei uma meia volta em torno da mesinha com guarda-sol e me acomodei num lugar estratégico.


Maravilha! Sombra e água fresca.


Observem como a cidade é cercada por enormes montanhas. As fotos foram registradas a partir do quiosque onde descansava.






Quase "ferrou" com tudo


Enfim, desde que saí de casa, no Brasil, a moto já tinha rodado mais de quatro mil quilômetros e no fim da tarde, pelas 17h, fui procurar um lugar onde pudesse fazer a troca de óleo da moto (Logo à esquerda onde está escrito "Garage - Petroleo"). 



Já estava de posse dos três litros de óleo que precisaria, com certa folga, para realizar o “cambio de aceite de motor”.

Depois de ter achado uma oficina mecânica para poder descartar o óleo utilizado, que na verdade era o quintal da casa de um morador da cidade, quando estava pronto para repor os últimos mililitros, num descuido furtivo, esbarrei na garrafa de óleo novo - que já se encontrava aberta e sem tampa - e ela tombou e começou a derramar óleo.

Num reflexo de gato eu já estava colocando-a de pé novamente. A sorte foi que a boca da garrafa tombou “morro acima” impedindo que o estrago fosse grande e irreparável. Enfim, a quantidade de óleo que levei, contando que sobraria um bocadinho para imprevistos, acabou por encher o conteúdo exato do reservatório de óleo.


Muy macho

Chegada a noite, saímos para jantar em um restaurante, novamente, na praça da cidade e onde o Chef aparentava não ter mais que uns doze anos de idade. Então, de posse do cardápio, que nos países estrangeiros nos serviu apenas para fazer o sorteio do prato no cara-e-coroa, pois, nunca identificávamos quais eram os ingredientes a não ser em raras exceções, dessa vez, não tivemos dúvida. Pedimos pizza, intitulada: “Mero Macho”. E esperamos!

Muito bem, a pizza era bonita, encorpada, mas, foi a primeira e última vez. Apimentada demais... Esperei até o refrigerante chegar para dar a segunda garfada. Era uma garfada na pizza e dois goles de refrigerante para acalmar. Como disse um colega de trabalho, ao contar um “causo” seu, numa viagem em que fez ao exterior, e faço minhas as suas palavras: 

“Os olhos enchiam d’água e eu chorava!”

Ao final, comprei algumas lembranças para os familiares e voltamos para o hotel.

É prática local fechar uma das ruas da praça para que as crianças possam brincar.

Foto cedida pelo Pedro

Deixei algumas coisas arrumadas para a partida do dia seguinte e fui dormir.

Hotel: $84,00 nuevos soles (US$29,91)




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