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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Dia 01. Desse jeito a viagem não rende


Sábado, 02 de agosto de 2014.
De Belo Horizonte/MG a Espinosa/MG (700 km).


No primeiro dia de viagem acidentes e congestionamentos já dão indícios de que seria uma grande aventura pelo nordeste do Brasil... Este é o relato de mais um dia na Expedição Litoral Nordestino, uma viagem de moto que realizei sozinho pelo nordeste brasileiro durante o mês de agosto de 2014. Belíssimas paisagens foram vistas e muitas experiências foram vividas: da calmaria de um encantador pôr do sol em Jericoacoara/CE à fuga alucinada na calada da noite em Petrolina/PE... fortes emoções foram vivenciadas. Continue lendo para acompanhar a viagem.

Mesmo que já tenha feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um caminho a percorrer - Santo Agostinho


Trajeto do dia




E aí? Vai para o nordeste mesmo?

Pois bem, a partir de agora inicio o relato da viagem que fiz de moto ao nordeste do Brasil, realizada durante todo o mês de agosto de 2014. Dessa vez, o primo Pedro, valente companheiro da viagem anterior (a Machu Picchu e deserto do Atacama) não poderia estar presente, pois, por causa de assuntos pessoais a serem resolvidos, ele só teria 15 dias de férias para aproveitar, os quais não seriam suficientes para acompanhar o atual percurso programado.


— Por que o nordeste? — Indagaram-me alguns amigos ao longo do planejamento da viagem.

Então, parei um minuto para esclarecer: disse que quando pensei em marcar minhas férias de 2014, decidi que as gozaria por volta do mês de Agosto/Setembro. Inicialmente, cogitei a possibilidade de ir visitar o sul do Brasil novamente, como havia feito numa oportunidade anterior, porém, dessa vez indo mais além, incluindo até o Uruguai no roteiro.

Contudo, resisti bastante a essa ideia, pois, para ser sincero, um forte desejo de voltar ao litoral brasileiro atiçava-me a cachola, a fim de frequentar algumas de suas belas praias. Inadvertidamente eram-me lançados pensamentos à consciência que, insistentemente, direcionavam-na no sentido de mudar o trajeto primeiramente imaginado. Confesso que já fazia ao menos uns 15 anos que não colocava os pés em uma praia no intuito de aproveitar um bom banho de mar. Assim, vislumbrava nesse momento a oportunidade de fazê-lo.

Alguns podem apelar para a obviedade, confrontando-me com a seguinte explanação: 

— Ora, rumando para o sul também há uma infinidade de praias que podem ser visitadas.

Contudo, sem nem mesmo esperar por qualquer tipo de conclusão, já tomaria a frente da conversa para retrucar:

— Sim, concordo que o caminho para o sul poderia levar-me ao encontro de belos lugares, porém, nessa época do ano (agosto/setembro), penso, não conseguiria molhar nem a ponta dos pés devido ao frio que poderia estar ocorrendo no litoral sul.

Assim, em verdade, e sem mais delongas, mudei o curso do destino, pois, queria mesmo era cair n'água e dar uns bons mergulhos. Consequentemente, às 4h30, do dia 02 de agosto (2014), já estava de pé, preparando-me para partir em direção ao nordeste brasileiro... das águas “quentes” e paisagens paradisíacas, do sertão árido e calor escaldante. Fique à vontade para subir na garupa da moto, pois, a partir desse momento o nordeste será revelado.

Não está esquecendo nada?

— Onde será que estão essas luvas? - perguntei-me já aflito, às 6h, estando a moto carregada com a bagagem e pronta para “zarpar”. Em torno de 15 minutos foi o tempo que levei para encontrá-las, após já ter revirado a casa e o quintal todo à sua procura. Não zombe de mim o(a) leitor(a) ao descobrir que, no fim das contas, fui achar o par de luvas de viagem escondido no “vão” entre o guidão e o painel da moto. Sim, muito bem escondido! 

Por conseguinte, solucionado o sumiço das luvas, dei a partida na moto e em poucos minutos estava a caminho da estrada, nesse início de viagem, a BR-040. Em tempo, preciso dizer que dessa vez foi fácil armar as malas no lombo da moto, pois, estava munido de um par de baús laterais cujo passo mais árduo para firmá-los foi apenas o de erguê-los do chão. Afirmo isso porque, em seguida, bastaria encaixá-los na base do suporte e apertar um botão para travar. E pronto! Nada mais.

Confesso que foi ótima a sensação de, em poucos segundos, poder carregar toda a bagagem e deixar o equipamento em “ponto de bala” para partir, diferentemente da viagem anterior (a Machu Picchu e Deserto do Atacama), ocasião em que utilizei alforges com milhares de presilhas (tudo bem, nem tanto, centenas apenas...) que obrigavam-me a perder um precioso tempo em sua amarração.

— Ótimo! Então, tudo resolvido, não? Posso sair?
— Ora, é claro que ainda não. 

Os bauletos estavam firmes, foram construídos e bem testados para ficarem seguros no suporte lateral da motocicleta, porém, desconfiado que sou, tratei logo de envolver cada um deles com uma rede elástica a fim de que, na hipótese de o encaixe que os prende se quebrar, eles não viessem a se soltar e cair no chão, causando problemas para mim ou quem estivesse atrás.

Agora sim, motores ligados e já fora de casa, a caminho da estrada... mesmo que tivesse esquecido o capacete, não daria meia-volta. Saí com o céu limpo, sem nuvens, e o sol ainda por nascer.



Desse jeito a viagem não rende

Não posso precisar quanto, mas, digo que a temperatura estava um pouco fria no momento. Também havia pouquíssimos veículos trafegando àquela hora, então, fui conduzindo, em paz, até a saída para a cidade de Paraopeba/MG, momento em que achei que já deveria desviar-me da BR-040.



Precoce engano! Não era esse o desvio a seguir, porém, o caminho era outro, mais à frente, uns 20 km, no sentido para Curvelo/MG, pela BR-135.

Após ter endireitado a rota, como dito, fui parar em Curvelo/MG. Sim, parar mesmo em uma obra de manutenção da pista. Durante uns 20 minutos fomos obrigados a esperar. Enquanto isso, conversei com dois motoristas que estavam estacionados por perto. Disseram que também iriam em direção ao norte das Minas Gerais, para além da divisa com a Bahia. Deram-me algumas dicas a respeito das estradas por onde eu iria passar mais tarde.


Pois bem, logo fomos liberados e, então, ao apagarem-se as luzes do sinaleiro, houve uma tal aglomeração de veículos e motoristas, vorazes e ávidos por ultrapassagem, que até mesmo a “Fórmula 1” jamais presenciara em toda a sua história. Nesse instante, não havia faixa contínua que pudesse conter os mais afobados.


— Pronto, já começaram as “gracinhas”, pensei comigo mesmo. 

Como eu não estava no começo da fila, não seria possível tentar livrar-me rapidamente daquela encrenca toda, então, para não ficar correndo risco, ali, no meio daquele caos e no momento em que os carros já começavam a tomar mais velocidade, julguei ser mais conveniente encostar a moto e deixar os mais afoitos – ou melhor, mal-educados – à vontade para se digladiarem.


Confesso que foi até bom ter parado, pois, aproveitei para substituir a tampa traseira da caixa protetora da câmera por outra que a permitira resfriar melhor, evitando que a lente ficasse embaçada (como podemos perceber em algumas das fotos anteriores). Por outro lado, permitira que os demais veículos tomassem mais distância uns dos outros, o que me facilitaria o trabalho de ultrapassá-los depois.

Instantes depois, “pé na estrada novamente” e, inadvertidamente, alguns motoristas ainda insistiam em driblar os cones da sinalização vertical para trafegarem exatamente no local onde não se devia estar. Paciência!


Não muito longe dali... não avisei? Pouco posso afirmar em que momento o caminhão da foto a seguir se acidentou, nem se vinha para cá ou ia para lá, se foi culpa do motorista ou de circunstâncias externas. Só sei de uma coisa: — Bobeia, pra você ver o que acontece!


Suponho o(a) leitor(a) já estar enfadado(a) com tanta lentidão. Sim, mas, imagine-se lá, com o tempo esquentando e em um ”acelera e para” sem fim. Eu estava certo de que ao transpor o veículo tombado as condições do trânsito melhorariam. De fato foi o que aconteceu, porém, não sem antes dar mais uma "paradinha" em outra obra de manutenção de estrada. Dessa vez, em Corinto/MG.


— “Puxa vida”! Já saí cedo para não perder tempo, mas, desse jeito a viagem não rende!, choraminguei.

Não posso reclamar do atraso, pois, a prosa com outros dois caminhoneiros foi boa e proveitosa. Ali mesmo aproveitei a oportunidade para remover o excesso de roupa que havia vestido para enfrentar a friagem do alvorecer.




Mantenha a atenção

 Após vencer mais essa parada obrigatória, “tome reta" até Montes Claros/MG. Até parecia com as estradas do “Chaco Argentino”.


Por diversas vezes ultrapassei carretas que transportavam enormes hélices de parques de produção de energia eólica.





Ao chegar nas redondezas da cidade, parei em um posto de abastecimento na estrada para comer algo. Nesse meio tempo também conversei com mais um caminhoneiro a respeito da barbeiragem e desrespeito frequente de alguns motoristas, que piorava quanto mais avançava para o interior.

Mais à frente, continuando a viagem, entre Montes Claros/MG e o trevo da BR-122, encontrei uma estrada bastante ruim, com muitas ondulações, frisos e buracos. Nesse trecho fui obrigado a diminuir a velocidade de cruzeiro a fim de evitar surpresas ao longo do caminho. Essa era a BR-251 por onde trafeguei por uns 20/25 km até a saída para Janaúba/MG. Depois disso, seguindo pela BR-122, a pista volta a melhorar, podendo ser elevada ao status de boa, porém, com alguns remendos, exigindo constante atenção.



Chegando em Janaúba/MG, fiquei um tanto surpreso ao ver um carro emparelhar comigo. Assalto não era, pois, avistei um jovem menino debruçado na janela olhando, mais surpreso ainda, para a moto e o motociclista com toda aquela vestimenta. Entre uma olhadela e outra para o interior do veículo, só pude perceber o gesticular do motorista, como alguém curioso e aflito por saber algo.



Convenientemente, como eu já precisava parar mesmo, por cinco minutos, para lubrificar a corrente da moto, “dei o braço a torcer” e sinalizei para que entrássemos no posto de abastecimento alguns metros adiante. Assim que parou, o rapaz logo saiu do carro fazendo-me diversas perguntas a respeito da viagem. A prosa foi divertida, entretanto, por motivos de segurança, com todo respeito à admiração e curiosidade do rapaz, me permiti a precaução de omitir algumas informações, mais detalhadas, sobre o caminho exato por onde iria seguir. Como já comentado anteriormente, em certas ocasiões desconfio até de minha própria sombra.

Não pare agora não

Como ainda estava claro e era cedo para encerrar a viagem, “toquei o bonde” um pouco mais, até Porteirinha/MG, onde passei em frente ao hotel que o primo Pedro havia indicado, caso eu decidisse pernoitar por ali mesmo. Só que de Janaúba/MG a Porteirinha/MG foi apenas um pulo, possibilitando tempo para “motocar” um bocado mais. Ainda parei em um posto para colher informações das condições do caminho. Alertaram-me sobre a existência de muitos remendos no asfalto por onde passaria.

Aproveitando a oportunidade para recomendações, faço um alerta aos motociclistas que andam em grupo (2 ou mais): o de que tomem cuidado com seus pertences transportados na motocicleta, pois, objetos mal amarrados podem se soltar e cair no asfalto podendo provocar um sério acidente e deixar em apuros quem vem atrás. No exemplo a seguir, a sacola que a mulher levava rasgou e todo o seu conteúdo veio abaixo.


Portanto, senhor(a) motociclista desleixado, "olho vivo" em seus pertences, pois, não vai querer ver seu (sua) companheiro (a) de viagem espatifado (a) no chão, a 5.000 km longe de casa, porque você se descuidou e não amarrou direito aquela sua garrafa d'água.

Enfim, por volta das 17h30, chegando em Espinosa/MG, decidi encerrar as atividades. Antes, aproveitei uma área de acostamento na estrada para tirar algumas fotos do entardecer.




Ao entrar na cidade solicitei aos moradores referências sobre algum hotel ou pousada para passar a noite e indicaram-me um hotel localizado na rua da praça central.



Antes mesmo de chegar no hotel, aproveitei que havia passado em frente de um posto de abastecimento e já enchi o tanque da moto, deixando-a pronta para a partida do dia seguinte.

Depois de realizado o “check-in”, carreguei para o quarto aquilo que iria utilizar à noite, tomei um banho e logo saí a fim de procurar algo para comer. Achei uma trailer e solicitei um sanduíche que os próprios funcionários levariam ao quarto do hotel quando estivesse pronto. Consequentemente, esse primeiro dia de viagem terminou após o lanche, pois, cansado, tomei um banho e deitei.


Hotel: R$85,00.


Dicas de viagem


  • Programe-se para pegar a estrada sempre mais cedo, nas primeiras horas do dia, a fim de conseguir aproveitar mais o tempo de viagem. Dessa forma, mesmo que haja imprevistos pelo caminho, como os que citei no relato, no final do dia a distância percorrida poderá ser satisfatória. Além disso, se você quiser parar no caminho para registrar algumas fotos, as imagens do alvorecer e entardecer, muitas vezes, serão as melhores.
  • Em viagens de moto, muitas vezes precisamos levar alguns itens amarrados no espaço do carona e do lado de fora dos baús/alforges. Atente para que tudo esteja muito bem preso, principalmente as garrafas de água, a fim de que nada se solte e venha a cair no chão causando complicações para quem está logo atrás.
  • Em longas viagens, o corpo pode sentir um cansaço maior ou ficar mais dolorido nos dois, ou três, primeiros dias até que se acostume com o ritmo da viagem. Dessa forma, cuidado com o esforço exagerado, e quando começar a ficar mais cansado, ao final do dia, pense na possibilidade de então encerrar o percurso do dia e procurar um local para repousar. Melhor dormir (inteiro) numa cama de hotel do que estirado no asfalto.



SOBRE O AUTOR

6 comentários:

  1. Muito bom, Gilberto!
    Cecília.

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    1. Olá Cecília. Obrigado pelo elogio!
      Que bom que agradou!

      Gilberto.

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  2. Bacana demais Gilberto! Já estava curiosa pra saber sobre a viagem! Bjos

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    1. Ei Lívia! Legal. Então, acompanhe, mas, se não quiser se molhar fique longe da beira da piscina porque eu vou pular... e para espirrar água.

      Um abraço!

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  3. Show de bola, estava acompanhando as preliminares no face, porém só agora estou lendo todo o relato da viagem.

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    1. Opa, blz. Acompanhe. Pouco a pouco vou adicionando os detalhes. Valeu.

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