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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Dia 07. Evitando confusão


Sexta-feira, 08 de agosto de 2014.

De Teresina/PI a Barreirinhas/MA (633 km).


Os Lençóis Maranhenses já estavam logo ali e, aparentemente, não seria tão complicado alcançar o destino do dia. Ledo engano!.. Este é o relato de mais um dia na Expedição Litoral Nordestino, uma viagem de moto que realizei sozinho pelo nordeste brasileiro durante o mês de agosto de 2014. Belíssimas paisagens foram vistas e muitas experiências foram vividas: da calmaria de um encantador pôr do sol em Jericoacoara/CE à fuga alucinada na calada da noite em Petrolina/PE... fortes emoções foram vivenciadas. Continue lendo para acompanhar a viagem.
É comprida a estrada que vai desde a intenção até à execução. - Jean Molière

Trajeto do dia


Vida de viajante é esta: acordar cedo para ter mais tempo de claridade na estrada, evitando viajar à noite. Consequentemente, aproveitando o bom hábito dos últimos dias, madruguei novamente. Às 5h15, já estava de pé preparando-me para enfrentar mais um dia de viagem.


Por volta de 6h15 comecei a carregar a bagagem na moto e pouco tempo depois estava em meio ao trânsito, com o sol “rachando a moleira”, procurando a saída para a BR-316 em direção aos Lençóis Maranhenses.







De atalho em atalho...

Observei que a BR-316 é uma rodovia que está em boas condições, porém, me deparei com alguns trechos em manutenção.



Antes de chegar em Caxias/MA (veja a foto do trajeto do dia para se localizar melhor), peguei o desvio para a MA-034 e, em torno das 10h, abasteci em Coelho Neto/MA, onde a preocupação com equipamentos de segurança (capacete) já não existe mais.




A MA-034 foi um “atalho” que peguei no caminho para os Lençóis Maranhenses e, como diversas outras estradas secundárias entre cidades interioranas, também sofre com o descaso e a falta de manutenção. Assim como alguns trechos por onde andei no interior da Bahia (veja o relato do - Dia 02. “No meio do caminho tinha uma pedra”, ou melhor, buracos - para saber mais detalhes), esses km que compõem a extensão da MA-034 também são um “convite” para acidentes, apesar de nos km iniciais ela aparentar estar mais cuidada.





A foto a seguir é mais uma para o pacote do descaso e irresponsabilidade. Percebam o que parece ser um bebê de colo levado na garupa da moto.



À medida que passava por essas cidadezinhas e vilarejos de estrutura bem simplória sentia-me como se estivesse sendo vigiado, pois, as pessoas sempre olhavam e as reações ao verem aquele “ser de outro mundo” eram as mais inusitadas; alguns davam risadas; outros, ficavam surpresos e sem ação, como estátuas; os menos avexados gritavam: — “filma nóis, filma nóis”, por causa da câmera que levava acoplada ao capacete. Além disso, quando precisava parar em um posto de abastecimento, os mais curiosos, como acontecera noutras ocasiões, aproximavam-se para perguntar de onde eu vinha e para onde ia e muitos simpatizavam com a jornada. Confesso que estava me divertindo com a situação.


Evitando confusão

Mais à frente, virando para a esquerda na encruzilhada com a BR-222, parei em um posto de abastecimento na cidade de Chapadinha/MA a fim de reabastecer meu galão de água potável que já estava no fim.




Estava a poucos km de distância do entroncamento com a MA-224, que me levaria a Barreirinhas/MA passando, antes, por Urbano Santos/MA. Então, ao indagar sobre como estavam as condições dessa estrada, algumas pessoas deram-me uma resposta diversa do tema principal da minha pergunta e cujo conteúdo foi bastante desencorajador.

Todos foram categóricos em afirmar que era uma área muito perigosa e que eu evitasse passar pelas redondezas de Urbano Santos/MA, pois, o “clima” na região não estava muito bom. Em outras palavras, conflitos de ordem política que se faziam presentes naquela cidade estavam deixando simpatizantes de lados distintos com os nervos à “flor da pele” e havia uma verdadeira guerra e disputa pelo poder que já tinha ceifado vidas.


Surpreso e meio assustado com os relatos, optei por alterar o trajeto restante até Barreirinhas/MA. Confesso que fiquei meio frustrado com essa decisão porque o caminho originalmente planejado me encurtaria muitos km até o destino final do dia, contudo, diante dos recentes depoimentos, achei melhor levar em conta o alerta que me haviam dado.


— “Cabra” (leia-se homem) de capacete por lá não é bem visto. – Disseram-me, argumentando que, pelo fato de todos andarem sem capacete por aquela região de conflitos, aqueles que o vestem, na maioria das vezes, podem estar mal intencionados e “estão mais para diabo do que para anjo”.


Enfim, tem gente que vê fantasma até na própria sombra e o quanto dessa estória era folclore ou verdade eu não sabia. Apenas sei que se até eles, que moravam nas cidades próximas e vizinhas, tinham certo receio de transitar por aquelas bandas, então, eu é que não iria arriscar passar por lá apenas com a “cara” e a coragem.





Problemas recorrentes

Dito e feito. Os poucos 180 km que me separavam dos Lençóis Maranhenses mais do que dobraram após a minha decisão de dar a volta, passando para nada menos que 380 km restantes. Consequentemente, meu alvo passou a ser a BR-135, caminho para São Luís do Maranhão.

Rodando pelo restante da BR-222, passei por muitos vilarejos às margens da rodovia.




Ainda, precisei desviar de uma saraivada de cabras pelo caminho. Das cabras leiteiras...



... e dos cabras que nos causam aflição carregando criança e bicicleta no lombo da moto.




Após uma "enxurrada" de km, e belas paisagens, alcancei a BR-135, uma estrada bastante movimentada e com pavimentação precária, que contém muitas irregularidades na pista ao longo da sua extensão.





Próximo à cidade de Santa Rita/MA, por volta de 13h, precisando comer algo, parei em um posto na beira da estrada.



Aproveitando a parada, instantes depois removi da bagagem o óleo lubrificante para passar na corrente da moto e qual não foi minha frustração ao ver que o pedaço de arame que prendia o protetor de corrente havia arrebentado.

— Já chega. Acabou a paciência. A “gambiarra” não está dando certo. – Pensei.


Esse inconveniente já vinha me causando chateação desde o segundo dia de viagem (consulte o relato do - Dia 02. “No meio do caminho tinha uma pedra”, ou melhor, buracos - para entender o que houve) e já era hora de remover essa peça que, além de me deixar preocupado com a possibilidade dela se soltar, ainda poderia de fato terminar de se quebrar e enroscar na corrente da moto, provocando um acidente.


Então, logo depois de tomar um lanche, perguntei ao frentista do posto se existia algum borracheiro por perto afim de poder remover a peça quebrada. Ele indicou-me uma borracharia localizada poucos km adiante. Quando por lá passei o borracheiro não tinha a ferramenta necessária para remover o parafuso da peça quebrada.


Fui obrigado a seguir em frente e logo cheguei à cidade de Santa Rita/MA. Percebi que ali, sem dúvida alguma, encontraria alguém que poderia realizar o trabalho. Dito e feito, a peça problemática foi removida pelo mecânico de uma loja de moto às margens da rodovia.



Espere aí. Não vai registrar essa foto?

Agora, despreocupado, pude continuar com mais tranquilidade a viagem. Algum tempo depois, em Macabeira/MA, desviei-me para a rodovia MA-402.





No início, passando por cidades maiores, a estrada estava um pouco movimentada, porém, à medida que avançava o fluxo de veículos diminuía cada vez mais até que me apercebi sozinho cruzando, vez ou outra, com algum veículo que passava no sentido contrário.

Num determinado momento avistei a placa dos Lençóis Maranhenses. Comemorei. Sem titubear, passei direto, e a cada metro que me afastava dela, comecei a me sentir como se estivesse com a “consciência pesada”, ou melhor, com um sentimento de culpa. Como já disse noutras ocasiões, por medida de segurança, tento evitar parar na estrada, no meio do caminho, a não ser que seja estritamente necessário. Porém, em certos momentos - você me entenderá car
o(a) leitor(a) - precisamos refletir um pouco sobre a situação, pois, eu estava ali, aparentemente sozinho, numa estrada sem muito movimento. Pensei que não haveria problema em realizar uma rápida parada. Então, reduzi a velocidade e fiz meia-volta, afinal de contas, não é todo dia e nem em todo lugar que se encontra uma placa indicativa dos Lençóis Maranhenses.




Enfim, chegando...

Passei por diversos vilarejos ao longo do trajeto e, aos motociclistas desavisados, deixo o alerta de que no caminho, principalmente nas redondezas das várias cidadezinhas existentes às margens da estrada, há muitos quebra-molas e a atenção deve ser redobrada porque em alguns deles não existe qualquer sinalização avisando sobre sua presença. Aliás, faço uma ressalva, a de que não eram realmente quebra-molas, pois, a partir daí passei a chamá-los de “montanhólas” (se me permitem o trocadilho), haja vista o tamanho e altura que tinham.



No fim da tarde, já quase noite, cheguei em Barreirinhas/MA. Encontrei a “Casa do Turista” que é um local com funcionários credenciados que fornecem informações diversas aos visitantes e dão todo o apoio necessário para que os turistas encontrem hospedagem na cidade e saibam sobre as atividades que podem ser realizadas na região dos Lençóis Maranhenses.


Foto retirada da internet. Meramente ilustrativa.

Antes mesmo de entrar, fui abordado por um homem, que se dizia credenciado pela prefeitura, querendo me vender pacotes de passeio. Desconversei dizendo que já tinha tudo planejado e que apenas esclareceria uma dúvida. Já que eu estava na porta da casa de apoio, achei melhor e mais conveniente entrar e solicitar informações diretamente aos funcionários do local.

Primeiramente, já estando acomodado na recepção da casa, peguei minha lista de hotéis e pousadas (previamente selecionados na etapa de planejamento da viagem) e comecei a ligar para cada um deles. Infelizmente, todos os locais estavam lotados. Foi então que, sem alternativa, solicitei a atenção do funcionário para que me ajudasse a encontrar hospedagem.


Depois de me esclarecer a respeito das opções de passeio pela região, agradeci a ajuda e segui em direção à pousada que o funcionário havia indicado. No momento do contacto, por sorte, ainda restava um quarto na tal pousada. Dessa forma, tentei me dirigir rapidamente para o local, mas, no caminho, ainda precisei solicitar informações sobre como chegar e terminei atrasando um pouco.





Consequentemente, por causa desse atraso, outras pessoas haviam chegado na minha frente e terminaram por contratar o único quarto que ainda restava na pousada. Confesso que fiquei chateado, pois, o funcionário da casa do turista havia dito à dona que eu estava a caminho. Ela justificou dizendo que se confundiu, acreditando que aquelas pessoas que chegaram antes de mim é que tinham sido indicadas pela casa do turista.



— Sim, sei. – Pensei comigo. E a minha memória não se mostrou tão ruim a ponto de não lembrar que o funcionário havia dito à dona da pousada que eu estava sozinho.

Pois bem, havia voltado à “estaca zero” e teria que recomeçar a procura. Em tempo, para minha felicidade, estava ali presente um dos muitos moto-guias da cidade e após ser recomendado pela dona da pousada e tendo presenciado o que aconteceu comigo, prontamente, se ofereceu no intuito de me ajudar a encontrar um lugar onde pudesse ficar. Aceitei sem pestanejar e saímos imediatamente.




Disse a ele que não queria nada luxuoso e que poderia ser um hotel mais simples. Dessa forma, dobramos uma esquina ali, outra acolá e em pouco tempo já me encontrava conferindo outro quarto de pousada. Esse pareceu-me muito bom para ficar, entretanto, como teria que deixar a moto pernoitar na rua, preferi não arriscar e, assim, lá fomos nós outra vez...

— Hilton, dessa vez com estacionamento particular. – Disse ao moto-guia antes de partirmos.


Enfim, instantes depois, chegamos a um hotel com estacionamento próprio cuja aparência me agradou bastante. Dessa maneira, encerramos a procura.



Ora essa! Mal chegou e já está planejando o momento da partida?

Às 19h, um lugar para dormir eu já tinha, mas, ainda faltava contratar os passeios a serem realizados no dia seguinte e o Hilton também ajudou nessa tarefa. Telefonou para alguns de seus contatos e combinou, para a parte da manhã, um passeio de barco pelo rio Preguiça. Apenas como curiosidade, coincidentemente, o passeio seria realizado pela mesma agência que a casa do turista tinha indicado.

A fim de completar a agenda de passeios, o Hilton ainda solicitou que me incluíssem no carro de passeio que iria aos Lençóis Maranhenses no período da tarde.


— Ótimo – Explanei.


Minha agenda de passeios estava definida conforme meu gosto e exatamente como havia imaginado anteriormente. Além disso, aproveitando a oportunidade e a presença do guia, e já pensando no planejamento da minha partida de Barreirinhas/MA, indaguei-lhe a respeito de como eu poderia alcançar a rodovia MA-315, que é caminho para Jericoacoara/CE, meu próximo destino turístico.


De todo o percurso planejado para a viagem o pequeno trajeto de aproximadamente 40 km da cidade de Barreirinhas/MA até a rodovia MA-315 (Paulino Neves/MA) causava-me certa preocupação, haja vista as dificuldades previstas anteriormente e que eu sabia que iria enfrentar ao transitar pelas estradas de chão de terra e areia fofa que conectam essas duas localidades.



Foto retirada da internet. Meramente ilustrativa.

Oportunamente, ele me respondeu que já havia realizado esse trajeto várias vezes, inclusive ajudando outros motociclistas, e que poderia ser o meu guia nesse percurso. Adicionalmente, passou-me seu telefone para que o contatasse na  noite anterior à minha partida, a fim de combinarmos o horário de saída no dia da viagem.

Muito bem, nos despedimos e, em seguida, descarreguei a bagagem da moto e encerrei as atividades desse dia.


Acomodações (foto tirada na manhã do dia seguinte).




Hotel: R$145,00


Dicas de viagem

  • Não deixe de levar consigo um galão de água potável, pois, estando exposto ao sol escaldante daquela região, mesmo na temporada de inverno, o calor pode debilitar bastante o organismo. Dessa forma, em intervalos de tempo você poderá fazer algumas paradas rápidas para se refrescar e reidratar. Também, na pior das hipóteses, caso fure um pneu ou estrague uma peça da moto em algum ponto mais afastado entre duas cidades e seja necessário esperar por ajuda, você, pelo menos, terá água para consumir.
  • Para esclarecer quaisquer dúvidas sobre hospedagem ou a respeito das atrações turísticas da região dos Lençóis Maranhenses, você pode procurar a Casa do Turista Dulce Corrêa que fica localizada bem na entrada da cidade.
  • Não se preocupe muito se você chegar a Barreirinhas/MA sem ter tido muito tempo para planejar seus passeios, pois, praticamente, todos os hotéis e pousadas têm contacto com agências e guias de turismo e o que não faltará é oportunidade para agendar algum passeio ou atividade.
  • Separe roupas de verão e muito protetor solar para colocar na bagagem, pois, mesmo tendo ido na época do inverno, agosto, o calor que fazia era muito grande. Aliás, nessa região toda do nordeste faz calor o ano inteiro.



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