Translate to your language

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Dia 09. Brasileños, no hay comida!


Sábado, 07 de setembro de 2013.
De Quillacollo
/Bolívia a La Paz/Bolívia (360 km)

Brasileiros, vão embora! Aqui não há comida. Bolivianos zombaram de dois motociclistas a 4.400 metros de altitude, em "La Cumbre"... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.


Trajeto do dia:
Trajeto de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia - 360 km.
Trajeto de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia.

Trajeto detalhado:
Trajeto detalhado de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia - 360 km.
Trajeto detalhado de Quillacollo/Bolívia a La Paz/Bolívia.

Antes de partir

Acordei pelas 06h30 e fui ver se o Pedro já estava acordado. Em seguida, terminei de organizar minha bagagem e, enquanto ele ainda arrumava suas coisas, saí para tentar achar alguma lan house (estabelecimento que disponibiliza computadores para acesso à internet) aberta para enviar notícias sobre como estávamos. O Pedro também me pediu para imprimir sua entrada para Machu Picchu, mas, na lan house não havia impressora.


Feirinha na rua em Quillacollo / Cochabamba.
Feirinha na rua em Quillacollo / Cochabamba.

Voltando para hotel após imprimir o boleto turístico de Machu Picchu.
Voltando para hotel após imprimir o boleto turístico de Machu Picchu.
Então, fui procurar uma farmácia aberta para esclarecer se o remédio que compramos na noite anterior, contra o mal da altitude, daria sonolência caso necessitássemos tomá-lo. Fui informado de que não, pois, também contém cafeína. Segundo a funcionária da farmácia, a indicação era tomar uma pílula antes de subir a cordilheira, e outra, após estar em La Paz.

Típica farmácia boliviana.
Típica farmácia boliviana.
Voltei para o alojamento e preferimos deixar a impressão do ingresso de Machu Picchu para depois. O Pedro comentou que já havia saído mais cedo e encontrado o comércio ainda fechado.

Em seguida,  retiramos as motos do hall de entrada do hotel e as colocamos na calçada do albergue, a fim de ficar mais fácil a montagem dos alforges. Fomos alertados pela funcionária de que não deixássemos as motos sozinhas, sob pena de termos algum item furtado, o que somente reforçou nosso hábito de deixá-las sempre com um de nós como vigia. Dessa forma, enquanto eu buscava algo no quarto, o Pedro esperava junto às motos, e vice-versa.

Pedro lubrificando a corrente de sua moto.
Pedro lubrificando a corrente de sua moto.
Foto cedida pelo Pedro.
Já prontos, saímos umas 8h.

Prontos! Rumo a La Paz / Bolívia.
Prontos! Rumo a La Paz / Bolívia.

Parada estratégica

Pouco tempo após sairmos de Quillacollo, em uma parada de pedágio, ao tentar fechar o zíper da minha jaqueta, a alça que o prendia arrebentou e saiu na minha mão. Fiquei chateado e preocupado, pois, a jaqueta havia ficado entreaberta e dali para frente só iria esfriar. Após travar uma dura batalha, consegui encaixar a alça no casaco.

Parada no pedágio para arrumar problema com a jaqueta.
Parada no pedágio para arrumar problema com a jaqueta.
Vi uma cena curiosa de dois meninos tomando conta da fila do pedágio. O engraçado era que eles colocavam um pneu no meio da pista e, enquanto o motorista não lhes desse algum trocado, eles dificultavam sua passagem.

Meninos organizando a fila do pedágio.
Meninos organizando a fila do pedágio.
Enquanto isso, o Pedro já tinha passado pelo pedágio e se distanciado um pouco.

Bela paisagem a caminho de La Paz / Bolívia.
Bela paisagem a caminho de La Paz / Bolívia.
Foto cedida pelo Pedro.
Após algumas curvas ele se deu conta de que eu não estava mais presente no seu retrovisor, então, decidiu parar e voltar um pouco.

Pedro parou para me esperar enquanto eu estava no pedágio.
Pedro parou para me esperar enquanto eu estava no pedágio.
Foto cedida pelo Pedro.

Pedro voltando para verificar o motivo da minha demora.
Pedro voltando para verificar o motivo da minha demora.Foto cedida pelo Pedro.

Parada estratégica para comprar água.
Parada estratégica para comprar água.Foto cedida pelo Pedro.
Segui viagem e, próximo dali, o Pedro havia parado para me esperar. Aproveitamos para comprar água e repor o estoque.

Parada no caminho para La Paz / Bolívia.
Parada no caminho para La Paz / Bolívia.Foto cedida pelo Pedro.

Parada de caminhoneiros no caminho para La Paz / Bolívia.
Parada de caminhoneiros no caminho para La Paz / Bolívia.

Hidratação.
Hidratação.
Em meio aos diversos tipos de bebidas vendidas pelo estabelecimento, vimos um que nos chamou atenção: uma garrafa pet de "Energy Coca", um tipo engarrafado de chá de coca. Como não iríamos tomar, sem necessidade, o remédio contra o mal da altitude, então, resolvemos experimentar o tal chá. Ao tomar o primeiro gole, percebi que era meio amargo. Confesso que o chá não tinha um gosto muito amigável.

Energético para encarar os mais de 4.000 metros de altitude.
Energético para encarar os mais de 4.000 metros de altitude.
Enfim, como grandes altitudes nos aguardavam, mesmo sem saber se esse chá traria algum real benefício contra os efeitos da altitude elevada, resolvi insistir e tomar mais um ou dois copos. Também guardei o restante para ir tomando no caminho.

Para o alto e avante

Algumas belas imagens registradas pelo caminho:

Escada de gigantes moldada na montanha.
Escada de gigantes moldada na montanha.

O abismo é logo ao lado.
O abismo é logo ao lado.

Vá devagar nessa curva.
Vá devagar nessa curva. Foto cedida pelo Pedro.
Após a cidade de Parotani / Bolívia, onde teríamos pernoitado não fosse a falta de hotel, começamos a subir a serra. A atenção foi redobrada porque, já no começo, observamos muitos animais na estrada.

Cuidado com os animais na estrada.
Cuidado com os animais na estrada.

Deu a louca nos bichos.
Deu a louca nos bichos.
Outras paisagens bonitas:

Bela cadeia de montanhas.
Bela cadeia de montanhas.

Vendo a continuação da estrada do outro lado do vale.
Vendo a continuação da estrada do outro lado do vale.

Vale profundo.
Vale profundo.
Vimos muitos vilarejos na beira da estrada.

Muitos vilarejos ao longo do caminho.
Muitos vilarejos ao longo do caminho.
Em alguns pontos, fomos obrigados a trafegar na contramão, por causa das péssimas condições da estrada.

Muitos buracos na estrada.
Muitos buracos na estrada.
Também, por umas três ou quatro vezes, precisamos esperar na parada obrigatória, devido às obras de manutenção que eram realizadas na estrada.

Parada obrigatória subindo a serra.
Parada obrigatória subindo a serra. Foto cedida pelo Pedro.
Em uma parte de descida, havia essa área de escape para caminhões.

Área de escape para caminhões.
Área de escape para caminhões.
E mais alguns animais na pista, após uma curva.

Lhamas na subida da serra de La Paz.
Lhamas na subida da serra de La Paz.

Nas alturas

Passamos pelo ponto mais alto da serra, “La Cumbre”, onde vimos placa indicativa de 4496m de altitude. Como estávamos com o cronograma apertado, por causa dos desleixos dos primeiros dias na Bolívia, não parei. Acho que o Pedro ficou meio bravo, pois, queria ter tirado fotos.

Nas alturas. La Cumbre.
Nas alturas. La Cumbre.
Depois disso, combinamos que quem estivesse atrás, e quisesse parar para algo em específico, deveria reduzir a velocidade demonstrando sua intenção de parar. Assim, aquele que estivesse à frente, deveria estar atento ao retrovisor, constantemente, a fim de perceber a parada de quem vinha atrás. Disse para ficar despreocupado porque ainda chegaríamos a uma altitude tão ou mais alta quanto a alcançada até agora. Um pouco mais à frente, parada para abastecer o tanque da moto com a gasolina do galão reserva.

Reabastecimento na beira da estrada.
Reabastecimento na beira da estrada.

Pedro reabastecendo no acostamento.
Pedro reabastecendo no acostamento.
A próxima paisagem é curiosa, pois, apesar de estarmos em uma região montanhosa, chegamos em uma planície enorme na qual só pudemos avistar montanhas ao longe, onde a vista quase não as alcançava.

Grandes retas no alto dos Andes.
Grandes retas no alto dos Andes.

Vamos sair logo daqui

Já estávamos com fome e quando começamos a procurar algum restaurante para saciá-la nos ocorreu uma situação engraçada e, ao mesmo tempo, deprimente: após pararmos em um restaurante que estava aberto (pois, já eram umas 14h), entramos e escolhemos uma mesa. Antes mesmo de nos sentarmos, fomos abordados pela fisionomia séria e carrancuda de uma senhora, já de mais idade, que nos perguntou se éramos brasileiros. Ao fazermos sinal de confirmação, ela iniciou uma ladainha, nos deu as costas e foi atender alguns bolivianos que já estavam sentados em outra mesa.

Em seguida, sem nos dar a menor atenção, voltou para a cozinha falando rápido um monte de coisas que não entendi... parecendo resmungar. Ela discursava incessantemente e  nós, sem sabermos o que fazer, escutávamos seu falatório ressoando lá de dentro da cozinha. Enquanto isso, já assentados, entendíamos bem pouco do que ela dizia.

Repentinamente, a velha, ao voltar da cozinha, e agora falando diretamente para nós, sem nenhuma possibilidade de eco ou anteparo que nos confundisse a audição, soltou uma frase que nos tocou com perfeito entendimento:

"Brasileños, no hay comida!"

Os bolivianos deram algumas risadas e nós, imediatamente, nos levantamos e saímos. Logo pensei:
"Vou sair logo porque, por essas bandas, não devem gostar de brasileiros e vamos é apanhar daqui a pouco.

E quando já estávamos fora do estabelecimento, como se quisessem se divertir conosco (imagino), alguns dos bolivianos bateram no lado de dentro da janela para chamar nossa atenção e fizeram sinais para que voltássemos. Tão logo percebi as fisionomias risonhas, disse ao Pedro que eu não voltaria. Preferia ficar sem comer a pagar para ver em quê aquela situação resultaria.

Após andarmos por mais uns 30 ou 40 minutos, paramos para almoçar em um restaurante com melhor estrutura.

É hora do almoço.
É hora do almoço.
O prato escolhido não poderia ser melhor, e mais apropriado, para a temperatura fria em que estávamos: sopa!

Sopa quente para aquecer o corpo.
Sopa quente para aquecer o corpo.

A sesta é na estrada

Um caminhão tombado a poucos km do restaurante em que almoçamos.

Acidente grave de caminhão.
Acidente grave de caminhão.
Uma bela paisagem. Onde estão as montanhas?

Retas enormes na Cordilheira dos Andes.
Retas enormes na Cordilheira dos Andes.
Houve muitos desvios na estrada, nos locais em que a via principal era reparada.

Faltando asfalto em alguns pontos da estrada.
Faltando asfalto em alguns pontos da estrada.
Realmente, era necessário algum reparo.

Estrada com piso bastante irregular.
Estrada com piso bastante irregular.
Rodados alguns km depois do almoço, o Pedro comentou ter tido alguma sonolência, entretanto, não soube dizer se foi causada pelo almoço ou consequência dos efeitos da altitude.

Perto de La Paz, foi minha vez de ter uma leve sonolência e pressão na cabeça, que passou rápido. De minha parte, tive certeza de ter acontecido por causa da subida, pois, acontecera perto do fim da tarde, após passado um bom tempo do horário em que almoçamos. No mais, não sofremos nada além disso. Como essas sensações tinham passado, preferi não tomar o remédio contra o mal da altitude.

Estava bastante frio e também ficamos preocupados sobre como faríamos para nos locomover em La Paz, pois, a cidade é muito grande e não poderíamos contar com a ajuda do GPS que, infelizmente, não voltou a funcionar depois do "Terremoto em Cochabamba" (leia mais sobre o relato do Dia 08 - Terremoto em Cochabamba).

A conquista de La Paz

A cidade de La Paz fica num vale, entre montanhas, e nossa chegada foi pela Ruta Nacional 1, tangenciando o aeroporto, Pela mesma estrada em que vínhamos andando já "caímos" na Autopista La Paz - El Alto. A partir de então, a chegada até o centro foi tranquila, pois, bastava seguirmos pela autopista até o seu final.

Chegando em La Paz.
Chegando em La Paz.

Olha La Paz lá em baixo.
Olha La Paz lá em baixo.
Ao chegarmos na região central, efetivamente, a situação se complicou. Foi difícil achar um hotel para ficarmos, pois, havia muita movimentação de veículos por causa do fim do expediente comercial. Por fim, conseguimos encontrar um hotel, de aparência muito boa, que fica exatamente em frente à "Cerveceria Nacional Boliviana".

Vista noturna de La paz. Cervejaria boliviana.
Vista noturna de La paz. Cervejaria boliviana.
Foto cedida pelo Pedro.
Ficamos mais de uma hora tentando encontrar algum hotel com "cochera" (garagem), que não fosse muito custoso e ainda tivesse internet sem fio (Wifi - que, infelizmente, não conseguimos utilizar por causa do sinal fraquíssimo que chegava no quarto). Terminamos por entrar na garagem do hotel já à noite, por não conhecermos a cidade e pela movimentação difícil no seu trânsito caótico, que era regado a buzinaço e desrespeito mútuo entre os motoristas .

Efeitos da altitude

Havíamos parado numa rua meio inclinada ao lado do hotel e, após ter acertado os trâmites para nossa estadia no hotel, fui manobrar a moto para entrar na garagem quando, num descuido furtivo, deixei-a tombar. O Pedro ajudou a levantá-la. Como a rua estava muito movimentada, achei melhor dar a volta no quarteirão para entrar com mais facilidade na garagem.

Por um descuido a moto vai ao chão.
Por um descuido a moto vai ao chão.
Já dentro da garagem do hotel, descarreguei a bagagem e precisei subir e descer duas vezes até o quarto em que ficaríamos, no quarto andar. Pegamos elevador do térreo até o andar em que ficamos, mas, da garagem até o elevador do andar térreo foi um sofrimento para carregar os alforges. Eu chegava "bufando" no quarto.

Foi difícil subir as escadas.
Foi difícil subir as escadas. Foto cedida pelo Pedro.

Cinco minutos para tomar fôlego.
Cinco minutos para tomar fôlego. foto cedida pelo Pedro.

Acertos finais

Depois de guardar tudo ainda precisei descer, novamente, para dar manutenção na moto, pois, o Pedro me avisou que a lanterna traseira tinha queimado e precisava ser trocada. Depois, um pouquinho de graxa para tirar graxa.

Limpando as mãos depois da manutenção na moto.
Limpando as mãos depois da manutenção na moto.
Foto cedida pelo Pedro.
Com tudo arrumado, fomos jantar num restaurante na própria esquina do hotel.

Já era hora de forrar o bucho.
Já era hora de forrar o bucho.
Na volta verificamos o trajeto de saída, do dia seguinte, para a Ruta Nacional 3 que nos levaria até a cidade de Coroico (passando pela estrada da morte).

Acomodações (foto tirada na manhã seguinte):

Quarto do hotel em La Paz.
Quarto do hotel em La Paz.
Hotel: $190 bolivianos (US$27,30)

Dicas de viagem


  • A subida da serra de La Paz é forte. Será uma subida dos 2000m para os 4300m em uma curta distância. Se você for uma pessoa mais sensível às mudanças de altitude, é recomendável que faça esse percurso de forma mais devagar. Também é fácil encontrar comprimidos contra o efeito da altitude, porém, converse com seu médico antes, a respeito de tomar ou não esse tipo de medicação.
  • Ao longo da subida da serra há muitos animais na estrada, principalmente cachorros. É preciso tomar muito cuidado, pois, ficam à beira da pista.



SOBRE O AUTOR

3 comentários:


Categorias