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sábado, 17 de janeiro de 2015

Dia 09. Rally de moto nos Lençóis Maranhenses


Domingo, 10 de agosto de 2014.
De Barreirinhas/MA a Jericoacoara/CE (420 km).


Dificuldades em um rally no deserto maranhense. Alguns tombos não impediram a chegada em Jericoacoara/CE... Este é o relato de mais um dia na Expedição Litoral Nordestino, uma viagem de moto que realizei sozinho pelo nordeste brasileiro durante o mês de agosto de 2014. Belíssimas paisagens foram vistas e muitas experiências foram vividas: da calmaria de um encantador pôr do sol em Jericoacoara/CE à fuga alucinada na calada da noite em Petrolina/PE... fortes emoções foram vivenciadas. Continue lendo para acompanhar a viagem.
Obstáculos e dificuldades fazem parte da vida. E a vida é a arte de superá-los. - Mestre DeRose

Trajeto do dia

Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.


Uma difícil escolha.

Uma vez tendo chegado aos Lençóis Maranhenses, a partir daí, minha programação tinha por objetivo retornar pelas rodovias federais e estaduais que margeiam o litoral brasileiro parando por pelo menos um dia em algumas das praias mais bonitas e badaladas do nordeste. Essa trajetória escolhida tinha logo à frente um paraíso natural: Jericoacoara, no Ceará. Então, estando de malas prontas para partir me vi entre duas opções de trajeto:

  • uma delas era voltar através das mesmas rodovias (MA-402, BR-135, BR-202, etc.) pelas quais havia chegado a Barreirinhas/MA e gastar ao todo uns 800 km para alcançar o objetivo do dia (a figura a seguir ilustra o trajeto referido);
Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.
  • a alternativa seria cortar caminho pelas estradas secundárias do interior do Maranhão e “cair” diretamente na rodovia MA-315, entre as cidades de Paulino Neves/MA e Tutóia/MA, como se pode ver na foto a seguir;
Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.

Dessa forma, como a primeira opção de trajeto seria muito mais longa, então, optei por pedir o auxílio do guia Hilton para ajudar-me a transpor esse percurso inicial (de aproximadamente 90 km), pelos “atalhos” do Maranhão, o que me possibilitaria reduzir a distância para pouco mais da metade da primeira opção, para 420 km.


Providências iniciais.

O Hilton passou no hotel às 6h30. Como já deixara tudo arrumado na noite anterior, rapidamente terminei de guardar as últimas peças de roupa no bauleto e logo estava com toda a bagagem carregada na moto.

Antes de sairmos fui pagar a conta da hospedagem e para minha surpresa e frustração o funcionário responsável pelo encerramento ainda não tinha chegado. Então, imaginei que se tivesse tido urgência para deixar o hotel não teria conseguido. Mas, enfim, às 7h uma funcionária assumiu o caixa e finalmente consegui realizar os procedimentos de check-out.

Atrasados, conseguimos deixar o hotel às 7h15 e fomos direto para um posto de abastecimento a fim de encontrarmos um calibrador para baixarmos a pressão dos pneus haja vista que os próximos 100 km seriam de estrada de terra e para trafegar de moto nesse tipo de terreno é melhor que os pneus estejam mais vazios. Isso permitiria que eles se fixassem melhor no chão e tivessem mais aderência ao piso.






Sinceramente, por minha pouca experiência e habilidade técnica em estradas de chão de terra e areia, não saberia dizer se isso me ajudaria ou não, pois, acredito que nem perceberia muito essa firmeza dos pneus no chão porque, cauteloso que sou, iria andar mais devagar mesmo. Contudo, não iria discutir com um guia especialista em estradas de terra. O Hilton me havia dito que também já fizera essa travessia várias vezes acompanhando e servindo de guia para outros motociclistas.



Muito bem! Já era hora de irmos e cinco minutos depois estávamos lá, no asfalto, percorrendo os exatos 10,6 km que separam o centro de Barreirinhas/MA (a partir da duna “Morro da Ladeira”) do ponto onde nos desviamos para a estrada de terra em direção ao “deserto”.



Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.


Um deserto para atravessar.

— Deserto? Minha nossa! – Pensei comigo, encucado. Pelo menos era o que sinalizava a placa localizada poucos metros antes do desvio (o(a) leitor(a) terá que desculpar a pouca nitidez das próximas fotos, mas, isso se deu por causa do ar condensado que se fixou na frente da lente da câmera, na parede da caixa protetora que a envolvia).




Foto do desvio que pegamos, retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.

Poucos metros adiante a jornada ia devagar e me encontrava cruzando montanhas e montes enormes de areia acumulada. Ouso alertar que o(a) leitor(a) se atente à dificuldade do terreno, pois, era um amontoado tal de terra fofa e movediça que me fez pensar que pilotávamos sobre as dunas dos Lençóis Maranhenses.



Por acaso, o(a) leitor(a) não se lembra de algum passarinho lhe ter contado sobre o fato de eu ainda (mas, prometo melhorar) não ter muita habilidade em estradas de chão de terra, com muita areia acumulada? Pois bem, se lhe disser que menos de cinco minutos depois de ter deixado o asfalto levei meu primeiro tombo você acreditaria?

Ahhh! Também não acreditei que seria tão cedo... e lá estávamos nós, eu e minha parceira de viagem, na “lona”.




Sacode a poeira e "tuca pra frente".

Rapidamente me levantei e com a ajuda do Hilton não tardamos em erguer a moto. Não houve avarias no veiculo haja vista que a velocidade era bem baixa. Terminei apenas sacudindo a poeira e num “pulo” montei novamente no lombo daquele “touro” bravo para domá-lo e mostrar quem manda.

Analisando racionalmente os fatos, confesso que se estivesse sozinho eu poderia ter passado por uma situação mais complicada, pois, teria que me preocupar em levantar a moto sozinho e nem sempre isso é uma tarefa fácil quando se trata de colocar de pé quase 200 quilos (ainda mais carregada com bagagem). Entretanto, por estar acompanhado de outra pessoa não me preocupei muito com isso porque sabia que teria ajuda em quaisquer inconvenientes. Por isso, sempre que possível, é sensato andar na companhia de mais alguém em lugares que tenham pouca circulação de veículos ou que alguma ajuda poderá demorar a chegar.

Consequentemente, continuamos seguindo através das péssimas condições da estrada. Preciso reconhecer a enorme dificuldade que tinha para controlar a moto no decorrer do caminho. Em algumas distâncias, infelizmente mais curtas, a estrada se mostrava mais “lisa e suave” para percorrer, contudo, na maior parte do percurso precisávamos vencer constantemente aquele tapete escorregadio de areia.




A cada metro percorrido o desgaste físico era constante e crescente, ainda mais para alguém (repito) que tinha pouca experiência e habilidade naquele tipo de terreno. Imagine – leitor(a) – uma quantidade de pó suficiente para cobrir a parte inferior dos pneus, por diversas vezes alcançando até a altura das raias da roda; a moto seguia engrenada ora na primeira e ora na segunda marcha, no máximo; a velocidade era lenta; o ato de pilotar era tenso e em todo momento surpreendido por desequilíbrios repentinos causados pelos escorregões do pneu dianteiro na terra fofa. Cada metro, uma vitória; cada km uma conquista.


Está ficando complicado.

— Nossa! Veja só, outra vez. Por acaso, não sabe o(a) leitor(a) que não se deve conversar com o motorista. Enquanto lhe dava atenção, me desconcentrei e caí novamente.



E essa não foi a última, pois, mais à frente tombei outra vez. E com a mesma disposição e sorriso no rosto veio o guia Hilton ao meu encontro para me socorrer.



E continuamos, felizes, pela estrada afora...



Sei que a história está ficando repetitiva, mas, não poderia esconder os fatos. Não consigo mentir ou omitir, pois, pelo contrário, minha consciência não me deixaria em paz. Porém, dessa vez, depois da quarta queda em menos de 50 km, o Hilton precisou assumir a direção da moto para atravessar um dos atoleiros.



A minha sorte foi que, de tanto treino, fui pegando o jeito da “coisa” e esses dois últimos tombos foram proporcionalmente mais afastados dos anteriores.

Nesse ínterim, lembrei-me de um relato de outrora sobre o primo Pedro, companheiro de outras aventuras e que também tinha passado pelo infortúnio de ser lançado ao chão – com moto e tudo mais – por causa das más intenções de um banco de areia camuflado no caminho (veja o relato do “Dia 03. Recuperando as energias”, da viagem que fizemos a Machu Picchu e Deserto do Atacama, para saber o que aconteceu com ele).

Ali, por experiência própria, havia tomado consciência de um fato: estando em viagem solo, conduzindo uma moto de maior porte, mais pesada e carregada com bagagem como a que eu tinha, só me seria permitido cair duas vezes... pois, após a terceira queda a moto continuaria no chão até chegar alguém para ajudar; ou, então, até que eu conseguisse descansar para juntar forças e colocá-la de pé novamente. Mesmo assim, ainda falo apenas de mim e das minhas condições, sem saber de outros motociclistas, mas, imagino que dependendo do tamanho e peso da motocicleta bastará um único tombo para que ela fique “colada e cimentada” no chão.

Portanto, você leitor(a), que pretende sair em viagem solo com sua motocicleta, descuide um tantito que seja do planejamento e vá entrando, desavisado, em estradas desconhecidas e em terrenos de muita dificuldade ousando arriscar a sorte grande para sair do outro lado... advirto-lhe que, em um dia de má sorte, ou azar se preferir, poderá terminar encrencado. Conhecimento e planejamento bem elaborado e minucioso são as suas armas, ou melhor, as ferramentas mais adequadas para o sucesso da sua empreitada.


Um oásis no deserto.

Logo mais, ao passarmos por uma grata área de vegetação mais alta e às margens de um pequeno córrego, onde a temperatura perceptivelmente se mostrou mais amena, não deixei fugir a oportunidade de solicitar ao Hilton alguns minutos de descanso e reidratação para que eu pudesse recarregar as energias.



Alguns minutos depois, recobrada a sã consciência anteriormente entorpecida pelas vicissitudes do percurso, peço ao(à) leitor(a) que desculpe a deselegância deste “ogro insensível”, mas, que em tempo me permita apresentar o guia Hilton, fiel e paciente companheiro dessa árdua jornada pelos desertos do Maranhão:



Enquanto ali estávamos, vimos passar uma jardineira (uma daquelas caminhonetes com assentos na carroceria) carregando turistas que muito provavelmente seriam levados a um ponto do rio Formigas para a partir daí, em cima de enormes boias, deixarem-se levar pela correnteza do rio em um passeio de flutuação. Observe as boias amarradas na traseira do veículo.



Após uns dez minutos de descanso, seguimos adiante, e nem preciso comentar que a estrada não melhorou nada.



Um oásis no deserto é como eu definiria o vilarejo de Cardosa/MA, que “apareceu” na nossa frente após mais alguns km. Estávamos, mais ou menos, na metade da distância até a rodovia MA-315. Tínhamos andado por volta de 45 ou 50 km até ali e não perdi um só minuto quando o Hilton disse que ficaríamos por mais alguns instantes e que, se quisesse, eu poderia dar um mergulho para me refrescar. Assim o fiz.







Tudo o que é bom dura pouco. É hora de seguir adiante.

Ficamos em torno de meia hora. Ao final aproveitei para comprar umas cinco garrafas de água, dessas de 600ml para repor o estoque do meu galão. Os desavisados que fiquem alertas e tomem cuidado com a desidratação. Estando esperto quanto a isso, já tinha tomado um bocado de água até aquele momento. Se não soubesse que era eu quem estava consumindo a água do seu interior até pensaria que meu galão estivesse furado.

Ligamos as motos e partimos. Passamos pela ponte do rio Formigas e, então, com mais secura e aridez pela frente a estrada se mostrou tão difícil e ameaçadora quanto antes.





Consequentemente, “quem está andando na chuva é para se molhar”! Huuummm! Observando melhor o tempo à nossa volta, para ser sincero, não havia chuva nenhuma por ali, mas, o que quis dizer realmente foi que... “quem está andando de moto em terra e areia fofa é para cair”... e uns 15 km depois de deixarmos o povoado Cardosa/MA tivemos que levantar a moto do chão novamente. Com mais essa as quedas já somavam um total de cinco, mas, já chega, e garanto ter sido a última.



Deviam ser por volta de 12h. Preciso dizer que estava bastante cansado, agredido pelo forte calor do sol e pela sensação térmica sufocante e ainda atordoado pela luta contínua para manter o controle sobre a moto naquelas precárias condições da estrada. O mais lamentável é que a vegetação rasteira e o sol a pino não permitiam formar nenhum local de sombra à beira do caminho a fim de que pudéssemos encostar as motos para fugirmos um pouco do sol escaldante sobre nossas cabeças.


Um ajuda o outro.

Então, continuamos até alcançarmos um casal, moradores da região, que também estava de moto e cujo pneu traseiro havia furado. Para ajudar o Hilton se dispôs a levar a moça em sua garupa enquanto o rapaz seguiria sozinho em sua motocicleta.





De minha parte ia conduzindo mais lentamente, a viagem não rendia, e a cada km ficava mais cansado. Porém, não motocamos muito até chegarmos ao próximo vilarejo onde encontramos alguém que poderia consertar o pneu danificado da moto do casal. Enquanto isso, aproveitei a oportunidade para descansar mais um pouco. Para um “marinheiro” sem muita desenvoltura já me encontrava bastante desgastado por aquelas enormes ondas de terra e areia fofa que tinha que transpor ou me desviar.

Consequentemente, em uma conversa franca com o Hilton, disse que talvez tivéssemos que fazer dessa uma parada estratégica a fim de que eu pudesse recobrar as energias. Nesse ponto, já tínhamos vencido a metade do caminho e foi então que ele, assistindo à sofrível aparência desse seu companheiro de viagem, propôs assumir o timão da minha moto e me levar na garupa pelo restante do caminho, uma distância de pouco além de 30 km.

Diante do que ele havia dito, logo perguntei se não lhe seria muito desgastante e penoso, afinal de contas ainda teria que retornar para Barreirinhas/MA depois. Tão sorridente quanto havia se mostrado em todo o trajeto até esse instante, logo argumentou:

— Ahh!!! Que nada... Estou acostumado com a estrada (e isso eu já havia percebido realmente). Já estive em situações piores que essa – Disse ele.

Depois de já ter caído 5 vezes, o danado ainda zombou de mim, em tom de brincadeira:

— E você ainda “comeu” pouca areia e poeira até agora. – Continuou dizendo.

De forma instintiva, abri os braços e contra-argumentei:

— Como assim comi pouca poeira? Já estou quase “cuspindo” blocos de tijolo...

Imediatamente “caímos na risada”. Mas, o diálogo não terminou por aí, pois, ele comentou que apesar dos tombos, em comparação com outros motociclistas que ele havia acompanhado noutras vezes, eu até que estava indo bem. Não sei se nesse instante ele queria apenas me motivar, mas, depois desse elogio e incentivo, até estufei o peito e encerrei a prosa com chave de ouro dizendo:

— Ahh! Eu sou “o cara”! – e foram escutar nossas gargalhadas lá na divisa do Maranhão.

Em seguida, dei o braço a torcer e, deixando de lado o orgulho agora ferido, aceitei a proposta do Hilton de me “arrastar” até o asfalto. Como disse anteriormente, ainda restavam uns 30 km de chão de terra e, muito provavelmente, no ritmo em que eu estava levaríamos a tarde inteira para vencermos essa etapa final.

Como iríamos eu e o Hilton na minha moto, solicitamos a ajuda do outro rapaz para que nos acompanhasse conduzindo a moto do Hilton a fim de que pudessem voltar depois que eu fosse deixado na beira do asfalto (na rodovia MA-315, entre Paulino Neves/MA e Tutóia/MA). Para a nossa satisfação, o rapaz foi gentil e retribuiu a ajuda.

Sem tardarmos, daí para frente o Hilton assumiu a direção e a viagem rendeu bem mais. Tenho que reconhecer que preciso aprender a me locomover melhor nesse tipo de terreno porque vendo o meu guia tocar a moto daquele jeito, facilmente e sem muito trabalho para equilibrá-la (e ainda levando garupa), percebi que saber conduzir com maior destreza por estradas complicadas como essa pode poupar tempo e evitar complicações.

Pois bem, para nosso alívio, pouco além das 13h30 avistamos o final dessa fatigante estrada em que estávamos e o ponto de encontro com o bom e conservado asfalto da rodovia MA-315.


Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.

Assim que chegamos na encruzilhada da rodovia, paguei ao Hilton o valor que tínhamos combinado pelos seus serviços de guia, agradeci por ter tido sua companhia até ali e nos despedimos; ele, com a alegria e o costume de ter conduzido mais um viajante pelos caminhos que domina e conhece como a palma de sua mão, e eu, com a satisfação de ter participado de uma aventura, de ter vencido muitas dificuldades e aprendido valiosas lições.


Chega dessa estrada.

Encerradas as formalidades, aliviado por estar numa boa estrada, tive o ânimo revigorado para cumprir a distância restante de mais de 300 km até Jericoacoara/CE.

Enquanto me preparava para partir aproveitei que uma motociclista também havia parado no acostamento e perguntei se havia algum local por perto a fim de que eu pudesse recalibrar o ar dos pneus da moto. Ela comentou que a poucos, na direção em que eu estava, haveria um borracheiro.

Assim que cheguei no lugar indicado quase desisti de entrar, pois, o caminho de poucos metros até a casa do borracheiro era todo de areia e eu havia acabado de enfrentar 96 km penosos em terrenos desse tipo. Contudo, não queria continuar andando com os pneus pouco calibrados e decidi encarar mais alguns metros de ação.

Agora sim, com tudo em perfeitas condições, acelerei e larguei a poeira para trás. Passei por muitas belas paisagens, inclusive pela ponte do rio Parnaíba que proporcionou uma bela vista do local.


Foto retirada do Google Maps. Meramente ilustrativa.

Consegui chegar em Jijoca de Jericoacoara/CE por volta das 18h. Já tinha decidido que não iria para a vila de Jericoacoara de moto, devido às condições da estrada que seriam mais difíceis do que aquelas enfrentadas no início do dia.


Quem vai para Jericoacoara?

Eu sabia que o caminho para Jericoacoara/CE seria igual ou mais complicado do que o que peguei ao sair de Barreirinhas/MA e não estava disposto a repetir o sufoco pelo qual havia passado naquela outra estrada. Mesmo assim, já estava por encerrar as atividades do dia. Felizmente, no início da cidade encontrei um bom estacionamento onde optei por deixar a moto guardada pelos próximos dois dias que era o tempo em que ficaria em Jericoacoara. O preço da estadia seria de R$30,00 para esse período.

Ao conversar com o funcionário do estacionamento pedi informações sobre como poderia chegar em Jericoacoara ainda nesse dia, ou seja, se seria possível pegar alguma condução que me levasse até lá mesmo já tendo escurecido, haja vista que o trajeto seria pelo meio das dunas. Rapidamente ele pegou seu telefone e ligou para um contato que conhecia muito bem o trajeto de Jijoca até a vila de Jericoacoara e que, inclusive, também era guia de passeios.

Estava parado na porta do estacionamento e ainda montado na moto quando percebi que o funcionário havia conseguido uma condução que me buscaria ali onde estávamos. Aprontei uma correria porque a condução já estava perto e chegaria em cinco minutos. Descarreguei a bagagem que iria utilizar na vila de Jericoacoara e saí às pressas para não atrasar as outras pessoas que esperavam dentro da caminhonete.

Finalmente, partimos para Jericoacoara. Dali fomos diretamente para o caminho das dunas e ao observar a estrada imediatamente percebi que tentar passar por aí de moto seria bem mais custoso do que fora anteriormente nos quase 100 km do trajeto de Barreirinhas/MA até a rodovia MA-315. À medida que o veículo avançava pelas dunas em alguns momentos percebia que as rodas patinavam e deslizavam pelos montes de areia obrigando o motorista a procurar o melhor caminho para avançar e não atolar. Sem dúvida alguma eu teria muitos embaraços e complicações se arriscasse ir de moto no dia seguinte.

Levamos pouco mais de meia hora para chegarmos em Jericoacoara e por volta das 8h15 o motorista deixou-me em frente a um hotel. Na verdade, era um Hostel (albergue). Após perguntar sobre o preço de um dos quartos individuais, e dar uma conferida no ambiente, optei por ficar.

Terminada a burocracia inicial e o preenchimento da papelada acomodei minhas coisas no quarto e saí a fim de achar algo para comer. O Hostel (Villa Chic) fica localizado na rua Principal da vila e não precisei andar muito até encontrar um pequeno mercado onde pude comprar alguns “comes e bebes”.

Ao retornar parei em frente à recepção e solicitei à funcionária a gentileza de tentar encontrar um passeio de barco ou buggy para o dia seguinte. Sorridente, ela se prontificou a entrar em contato com as agências de turismo para verificar o que havia disponível e depois me avisar caso conseguisse fechar algo.

Cansado e fatigado pelos contratempos do caminho, fiz um lanche rápido... banho... e cama. Aliás, antes de ir dormir, enquanto me preparava para realizar o backup das fotos e vídeos registrados no dia, fiquei extremamente chateado ao descobrir que todas as gravações da parte da tarde estavam perdidas, pois, descobri que o meu cartão de memória havia estragado. Nele havia as imagens que registrei andando na garupa do guia Hilton, as fotos de recordação que tirei com ele no final daquela estrada de terra medonha pela qual passamos, a chegada em Jericoacoara, enfim, de tudo o que se passara à tarde.

Em suma, tentei de todas as maneiras, mas, não tive sorte em recuperar os dados. Apenas a titulo de informação, esse cartão era aquele que havia mergulhado na água, juntamente com a câmera de vídeo, no Poço Azul, Chapada Diamantina (veja o relato do “Dia 04. Bobeou, dançou” para saber o que aconteceu).

Paciência!

Quarto do albergue em Jericoacoara/CE:



Hotel: R$150,00


Dicas

  • Ao trafegar por estradas de terra é recomendado murchar um pouco os pneus para ter mais aderência com o piso escorregadio.
  • Deve-se andar com o motor em uma rotação mais alta, pois, dessa forma, caso seja necessário reduzir a velocidade com mais intensidade o freio motor poderá ajudar nessa tarefa. Evite, a todo custo, utilizar o freio dianteiro e prefira acionar mais o freio traseiro e o freio motor para tentar controlar a moto ou diminuir sua velocidade.
  • Em terrenos mais escorregadios seja mais cauteloso ao girar o acelerador, principalmente nas saídas de curva, a fim de evitar que o pneu gire em falso fazendo a moto derrapar.
  • Ao passar por buracos você pode apoiar-se no pedal e levantar-se da moto a fim de absorver melhor o impacto sobre as imperfeições do chão.
  • Se tiver certeza da distância a ser percorrida em uma estrada de terra, procure não encher muito o tanque para que numa eventual queda a gasolina não vaze pela tampa.
  • Por mais que em teoria essas dicas sobre como andar em estradas de terra possam ser úteis, na prática, o que vai valer mesmo é a sua experiência em trafegar nesse tipo de terreno. Quanto mais vezes você tiver andado nessas condições, maiores serão suas chances de se sair bem. Pelo contrário, quanto menos experiência, maiores serão suas dificuldades; e nesse último caso, o problema real será apenas a sua disposição para enfrentar os desafios.
  • Em viagens a locais badalados como Jericoacoara/CE, um lugar movimentado durante o ano inteiro, é preferível contatar antecipadamente alguma agência de turismo para agendar os passeios, principalmente se for época de alta temporada (meses de férias escolares, carnaval ou feriados prolongados). Entretanto, em outras épocas do ano, segundo me informou a funcionária do Hostel onde fiquei, não há muito que se preocupar porque será mais fácil marcar atividades de barco ou buggy.
  • O deslocamento entre Jijoca e a vila de Jericoacoara, geralmente, custa entre R$5,00 e R$10,00 e costuma funcionar até as 20h. Contudo, há quem abra exceção dependendo do valor a ser negociado pela viagem.
  • O estacionamento de veículos, na entrada de Jijoca de Jericoacoara, funciona de dia e durante a noite também.
  • Sempre que houver oportunidade procure realizar o backup dos seus registros de viagem (fotos e vídeos) em um cartão de memória reserva ou dispositivo de armazenamento extra. Isso pode evitar que você perca suas "memórias" digitais caso haja algum problema com o cartão de memória que você utiliza nos momentos de "ação".



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