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domingo, 15 de setembro de 2013

Dia 04. No olho do furacão


Segunda-feira, 02 de setembro de 2013.
De Campo Grande/MS/Brasil a Corumbá/MS/Brasil (425 km)

O dia começa com um chuvisco. Depois, chuva forte. Mais adiante, chuva torrencial. Quando começou a melhorar, ledo engano, era apenas o olho do furacão... Este é o relato de mais um dia na Expedição América do Sul, uma viagem de moto que fiz acompanhado do primo Pedro passando por alguns países da América do Sul durante o mês de setembro de 2013. Uma viagem extraordinária em que foram vivenciadas muitas emoções ao longo do trajeto. Passamos calor e frio, tivemos alegrias e dificuldades, momentos de tranquilidade e apreensão. Continue lendo para acompanhar a viagem.


Trajeto do dia:

Trajeto de Campo Grande/MS/Brasil a Corumbá/MS/Brasil - 425 km.
Trajeto de Campo Grande/MS a Corumbá/MS.
Trajeto detalhado:

Trajeto detalhado de Campo Grande/MS/Brasil a Corumbá/MS/Brasil - 425 km.
Trajeto detalhado de Campo Grande/MS 
a Corumbá/MS.

Um pouco doloridos, mas, revigorados

Não consegui dormir muito bem por causa de algumas dores musculares, mas, como havia ficado mais quieto durante o dia anterior, e à noite, pude acordar com o corpo mais descansado, apesar das poucas horas de sono que tive.

Eram 06h50 quando o despertador tocou. Escrevi um pouco no diário e levantei em seguida. O Pedro fez o mesmo assim que conseguiu sair do coma.


Pedro descansando. Quase em coma.
Pedro descansando. Quase em coma. 
Foto cedida pelo Pedro.
Em seguida, fomos tomar café no restaurante do hotel, às 07h45. Comi pão com presunto, queijo e ovos mexidos, acompanhado de suco de laranja. De volta ao quarto, descobri a presença de outro hospede se esgueirando pelo chão e tratei logo de solicitar que se retirasse do recinto, com urgência.

Visitante inesperado no quarto do hotel.
Visitante inesperado no quarto do hotel.
Instantes depois, o Pedro foi consertar algumas das avarias (não sérias) da moto e realizar outros reparos necessários.

Pontualmente, ao som das 11 badaladas, mortos-vivos e feridos, adiantados e atrasados, mulas e bestas... todos se reuniram na praça central:

Prontos para partir. Rumo a Corumbá / MS.
Prontos para partir. Rumo a Corumbá / MS.
...e quando a trombeta soou, a horda desembestou estrada a fora.


"Tuca pra frente"

Antes de sairmos, combinamos a velocidade de cruzeiro e eventuais paradas para abastecimento... que aconteceriam quando a luz da reserva do tanque acendesse. Como nossas motos eram do mesmo modelo (Yamaha XT660 R, diferentes apenas pelas cores e ano de fabricação – a do Pedro, Azul e 2011/12; a minha, preta e 2010/10), no momento em que a luz da reserva acendesse, saberíamos que a outra moto poderia estar na mesma situação.

No momento da saída, eu estava sem muita gasolina, pois, já havia andado 60 km na reserva, no percurso do dia anterior até Campo Grande/MS. Andamos alguns km na saída da cidade e já estávamos entrando na estrada quando, então, tive receio de que pudesse ficar sem gasolina.

Assim, parei e pedi ao Pedro que seguisse um pouco à frente para verificar quantos km haveria até o próximo posto de gasolina. Pouco tempo depois, me ligou, avisando que eram poucos, uns dois km.

Abastecemos e continuamos viagem sob um pouco de chuva que cessou após alguns km.

Saímos com tempo chuvoso de Campo Grande / MS.
Saímos com tempo chuvoso de Campo
Grande / MS. Foto cedida pelo Pedro.
Vejam a força dos ventos na copa das árvores.


Vai por mim, vai fazer sol

A parada para o almoço foi por volta de 13h30, nas redondezas de Miranda/MS e nos servimos de bife acebolado no self-service do restaurante, à beira da estrada. Perguntamos para uma das funcionárias como costumavam ser as condições do tempo naquele trajeto até Corumbá/MS, pois, o tempo ainda estava nublado (mas, sem chuva), e ela nos disse, com afinco, que não iria chover.

Ótimo, acreditamos. O restante do trajeto do dia seria tranquilo (risos... de contentamento ingênuo, dada a resposta da funcionária). Enquanto isso, paisagens muito bonitas:

Bela paisagem no caminho para Corumbá / MS.
Bela paisagem no caminho para 
Corumbá / MS.
Um pouco além dali começamos a andar por mais retas enormes e, nesse momento, desisti de continuar a comparar com as de caminhos anteriores, pois, cada vez que eu via uma reta que achava gigante, surgia outra, alguns km depois ou no dia seguinte, maior ainda. A estrada é muito boa, mas, deixa a desejar em alguns trechos:

Estrada com buracos no caminho para Corumbá / MS.
Estrada com buracos no caminho para
Corumbá / MS.
Um pouco mais adiante, querendo acreditar que a funcionária tentou apenas nos tranquilizar (“me engana que eu gosto!”), a chuva recomeçou. No início, com alguns poucos pingos, porém, à medida que os quilômetros passavam, piorou exponencialmente. Quando percebemos, estávamos sob chuva torrencial e encharcados; o Pedro, porque preferiu não levar capa de chuva, acreditando que a roupagem dele (igual à minha) iria aguentar, e eu porque resolvi esperar um tempo mais para ver se o chuvisco inicial passaria.

Tempo bastante nublado.
Tempo bastante nublado.
 ...e a chuva que veio depois:

Tomando chuva torrencial.
Tomando chuva torrencial.
Em alguns trechos quase não trafegava nenhum carro, apenas as duas motos cruzando o pantanal, em meio a bandos de aves que quase colidiam com o para-brisa da moto. Às margens da estrada, lagoas repletas de jacarés à espera de apenas um escorregão. Não paramos para sacar fotos dos animais (sim, já estou treinando algumas expressões, afinal, estamos quase na fronteira com a Bolívia...), pois, a chuva era intensa e já esfriava, nos tirando o ânimo para fazê-lo naquele momento e sob aquelas circunstâncias. Foi uma pena não termos parado, mesmo sob o fogo cruzado (ou melhor, chuva cruzada) de São Pedro. Fiquei arrependido depois. Foi uma oportunidade perdida! Paciência.

Vimos, também, diversos outros animais típicos da região, mas, o que impressionava era a enorme quantidade de pássaros no meio da estrada ou os que passavam cruzando-a, em voos rasantes e suicidas. Kamikazes. Fomos em baixa velocidade (80-90 km/h), para evitarmos maiores surpresas e haver mais tempo de reação, caso houvesse qualquer imprevisto. Como diminuímos o ritmo, a preocupação passou a ser outra: era uma olhada nas três próximas moitas de cada lado e outra em cada retrovisor para ver se a onça não vinha correndo atrás.


Não! Não! Espere. Agora tenho certeza: vai fazer sol

Em certo momento, a chuva começou a ceder e ficamos aliviados com a possibilidade de continuar, mais tranquilamente, até Corumbá/MS. Ingenuidade! Era, apenas, o “olho do furacão”, pois, a tempestade que veio a seguir era tão ou mais forte que a anterior. Porcaria, como assim esse tanto de chuva? Li em diversos relatos que o período de setembro é de poucas chuvas. Também verifiquei em sites de previsão do tempo o volume estatístico de chuva para esse período da viagem, além de também saber que o mês de setembro é de poucas chuvas realmente.

Enfim, paciência! E num percurso de 10 minutos, que havia começado assim:

Belos coqueiros retorcidos pelo vento.
Belos coqueiros retorcidos pelo vento.
Foi ficando desse jeito:

Chuva constante até Corumbá / MS.
Chuva constante até Corumbá / MS.
E... o céu já estava quase caindo:

Um dia que virou noite no pantanal.
Um dia que virou noite no pantanal.

Em busca de um telhadinho para cobrir a cabeça

Próximo a Corumbá/MS, e com chuva mais amena, pegamos uma estrada bastante suja de terra em alguns pontos. Após entrarmos na cidade, vimos vários hotéis logo na entrada da cidade, mas, fomos até o centro, a fim de ficarmos mais próximos da saída para a fronteira com a Bolívia. Porém, no centro, vimos um hotel que parecia ser caro demais e outro que aparentemente não tinha garagem.

Então, preferimos voltar até a entrada da cidade para pernoitar em um dos hotéis que tínhamos visto, pois, estávamos bastante cansados e com fome.

Pedimos pizza, que demorou uma hora e meia para chegar e quase cancelamos o pedido.

Ao contrário das outras acomodações que eu havia estado, nesse quarto fazia um calor enorme e havia um ar condicionado que não funcionava direito.

O Pedro ficou na cama que era beliche e, após aquela chuvarada, o dia só poderia terminar assim:

Espalhando a roupa molhada pelo quarto do hotel.
Espalhando a roupa molhada pelo 
quarto do hotel.
Ele dormiu na parte de baixo e pendurou as roupas na de cima. Também, usei o pé da beliche para pendurar algumas roupas. Comparada com outras decorações, essa era simples e rústica, porém, tornou-se revigorada e mais enfeitada com a nossa chegada, com camisas, calças, meias e cuecas que passaram a fazer parte da decoração. Ficou muito bom!

Inclusive, fiz questão de colocar a foto abaixo, para ajudar um dos motociclistas que ali se hospedaram, antes de nós (sim, só pode ter sido outro como nós), a reconhecer um de seus itens de viagem, esquecido no banheiro.

Quem esqueceu uma cueca no quarto?
Quem esqueceu uma cueca no quarto?
No mais, depois de um bom banho e enquanto esperávamos a janta, realizei o backup das fotos do dia e recapitulamos como seria a entrada na Bolívia e a rota que deveríamos seguir no dia seguinte. Estávamos apreensivos, pois, eu havia lido muitos relatos de assaltos nessa região de fronteira e de policiais corruptos que dificultavam a viagem de quem cruzava a fronteira e entrava na Bolívia. Passar por esse país, o mais pobre de todos que iríamos visitar, seria complicado (eu pensava) e, sem dúvida, esses primeiros 300 km, em torno da fronteira, seriam a parte mais perigosa de toda a viagem.

Fazendo backup das fotos e vídeos registrados no dia.
Fazendo backup das fotos e vídeos registrados 
no dia. Foto cedida pelo Pedro.
Foi um sacrifício esperar a pizza... nesse meio tempo improvisamos os copos.


Copos improvisados.
Copos improvisados.
Depois que jantei fui dormir.


Hotel: R$35,00 (US$15,21)

Dicas de viagem

  • Se seu macacão de viagem não for totalmente impermeável, leve uma capa de chuva e, caso observe que haverá grande possibilidade de chover, vista a capa antes de a chuva começar, pois, você não vai querer se molhar todo enquanto coloca a vestimenta de chuva.
  • A previsão do tempo é um recurso muito bom, nos ajuda bastante em determinados momentos, mas, vez ou outra, quando sair de casa, olhe para cima também...



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